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O Encontro de Mulheres do SINDIÁGUA, nos dias 04, 05 e 06 de abril, em Torres, demarcou um novo momento na participação cidadã das colegas, desde o engajamento ainda maior na campanha pela manutenção da Corsan pública e da água como um bem de todos – que não pode ter dono – aos problemas específicos do mundo feminino. "Esta é uma oportunidade de discutir estas questões, que afetam a todos nós, a partir de uma perspectiva de gênero", frisou Rui Porto, presidente do Sindicato, na abertura do Encontro. Cerca de 200 trabalhadoras de unidades da Corsan de todo o RS, juntaram-se à Comissão de Mulheres do Sindicato e à Diretoria para transformar o evento num ponto de partida para maior protagonismo das trabalhadoras. A diretora de Gênero, Vera Lúcia Castro Alves, reforçou o engajamento de todas as mulheres da categoria neste esforço: "Todas juntas, nós trabalhadoras da Corsan podemos fazer a diferença nesta luta pela água como um bem público, que exige a nossa participação". Revolução Silenciosa Após a abertura na noite de sexta-feira, seguida de jantar de confraternização, a manhã de sábado deu início a uma programação bastante extensa. Depois de uma sessão de Ginástica Laboral com todas as participantes, o palestrante Dr. Joel Adriano Maciel, pesquisador comportamental, desenvolveu uma explanação sobre "A Revolução Silenciosa das Mulheres". Ele afirmou que hoje é necessário todos construirmos novos referenciais: "As mulheres estão fazendo uma revolução silenciosa, e o mundo está caminhando do masculino para o feminino", garantiu. "Mas é preciso muita reflexão sobre a condição e as características positivas femininas, para que muitas mulheres, ao chegarem ao poder, não repitam erros históricos – como o autoritarismo e a falta de solidariedade - muitas vezes cometidos pelos homens", lembrou o palestrante. Depressão feminina Na seqüência, o médico psiquiatra e psicoterapeuta Ernani Haas, do Instituto Fernando Pessoa, fez uma explanação sobre "Depressão na Mulher". De início, ele deixou claro que é fundamental não confundir depressão com tristeza comum, que é passageira e tem causa determinada: "Depressão é uma doença como a diabetes, por exemplo, e precisa de tratamento médico e medicação", argumentou. Haas explicou os mecanismos cerebrais responsáveis por este mal, e acrescentou que o problema atinge duas vezes mais mulheres do que homens. Entre os fatores desencadeantes, estão a morte de ente querido, demissão (ou perda de status ou cargo no local de trabalho), separação, violência e mesmo a variação de hormônios sexuais. Assédio Moral O tema "Depressão", que provocou muitas questões das participantes, encadeou-se com a peça "Assédio Moral Comigo Não", apresentado por grupo teatral do Sintrajufe/RS, seguido de debate sobre o assunto, no início da tarde. Sentaram-se à mesa do Encontro de Mulheres do SINDIÁGUA as convidadas Mara Weber, do Sintrajufe-RS (que elaborou uma cartilha sobre o tema Assédio Moral), Mara Felts, da CUT-RS, o advogado Pedro Osório, da assessoria jurídica do SINDIÁGUA, a diretora de Gênero do Sindicato, Vera Lúcia Castro Alves, e o presidente Rui Porto. Os fundamentos desta legislação estão fundados na Constituição de 1988, que garante proteção à dignidade da pessoa humana. Mara Weber destacou que hoje em dia a Justiça do Trabalho dá maior acolhimento às ações por assédio moral do que a chamada Justiça comum. Ela citou um caso que chegou ao Sintrajufe, de uma funcionária que tinha um ótimo currículo profissional, e que depois da posse de uma nova chefia, passou a ser perseguida e sofrer avaliações negativas. "Nesta situação, como a assediadora também era sindicalizada, tivemos que alterar o estatuto do Sindicato para poder encaminhar sua punição", explicou ela. "Sempre que nos encaminham algum caso realizamos uma minuciosa avaliação e encaminhamos à Justiça o processo com as provas documentadas". Weber ressaltou a importância das denúncias sempre virem acompanhadas de provas ou testemunhos para que possam ser investigadas. A outra convidada do Encontro, Mara Felts, ressaltou que é muito importante a participação de todos nestes debates: "Não vamos esquecer que foram os movimentos sindical e de mulheres que botaram na rua, expuseram para a sociedade, esta questão do assédio moral e sexual", disse. "Informação é fundamental, solidariedade é fundamental", concluiu. Um pouco antes, ela havia exposto o caso da Lei Maria da Penha, que trouxe penas mais sérias aos condenados por violência doméstica e novas garantias de defesa às vítimas desta situação. "Mas é importante ficarmos atentas: há juízes que vêm tentando derrubar esta lei", alertou. Rui Porto destacou a importância de todas as participantes multiplicarem estas informações em seus locais de trabalho e suas comunidades. "Hoje o maior exemplo de assédio moral é o que está fazendo a direção da Corsan. Acontece, por exemplo, quando o trabalhador pede transferência por motivos de saúde na família, e recebe de seu chefe a resposta: se você assinar o "novo" plano da Corsan, abrindo mãos de várias letras em troca de uma, podemos fazer o que você pede, se não, será impossível... Esse é um caso típico de assédio moral". Fundação e Associação Também despertaram muito interesse as explanações sobre as realidades hoje vividas dentro da Fundação Corsan e da Ascorsan. O secretário-geral do Sindicato Leandro Almeida e o colega Mauro Dalberon, conselheiros eleitos da Fundação, relataram o episódio da nefasta aplicação de recursos no Banco Santos. Geraldo Portanova (indicado pela Corsan para dirigir a Fundação) foi multado e alertado pelas irregularidades. Ele, porém, escondeu dos conselheiros e da Corsan a sua condenação. Houve quebra de confiança com a Direção da Corsan e conselho de representantes da fundação, que pediu sua exoneração. Mas Portanova vem garantindo sua manutenção no posto através de liminares. "Se não conseguirmos vencer a barreira do Judiciário gaúcho, vamos recorrer em nível federal, seja na Justiça seja na Secretaria de Previdência Complementar", disse Dalberon. A respeito da Ascorsan, João Steigleder, 1º tesoureiro na nova gestão, disse que a entidade está em situação precária, com R$ 150 mil negativos nos bancos e com empréstimos de R$ 216 mil - feitos pouco antes de deixar o cargo - pela última diretoria, de Mauri Ramme. "Temos uma auditoria trabalhando, e daqui a um mês teremos um diagnóstico mais completo de tudo", informou. Mas lembrou que nem tudo são problemas. A situação dos carros foi regularizada, com a venda da Besta (camionete) e a troca do Vectra por dois veículos Gol. "Vamos instalar um consultório odontológico, com dentista à disposição, em cada região", afirmou o tesoureiro. Momento histórico Ao falar sobre "O Papel do Sindicato nas Relações de Trabalho", Rui Porto disse que "vivemos hoje o momento mais importante da história da nossa categoria". Situando o debate sobre a intenção privatizante do governo Yeda Crusius e a ameaça das municipalizações dos serviços de água, ele reforçou a importância de todos – homens e mulheres da categoria – participarem ativamente deste debate, comparecendo às sessões nas câmaras de vereadores em suas cidades, influenciando e discutindo. O presidente do SINDIÁGUA informou às colegas do lançamento da campanha de abaixo-assinado com o Pedido de Emenda Constitucional (PEC) à Constituição do RS, para garantir que os serviços de água no estado jamais sejam privatizados. "Precisamos levantar dois milhões de assinaturas, para que esta demanda não possa ser recusada pelos deputados", disse. "Se aprovarmos esta PEC, nenhum governador não poderá abrir o capital da empresa. Para divulgar esta idéia, passou uma "lição de casa" a todas as participantes: levar em cada reunião de clube, mateada na praça, festa de colégio, passeio no Brique, o abaixo-assinado da PEC. Encerramento Na noite de sábado, houve um coquetel de encerramento do evento, com a apresentação de um número de Tango figurado – pela colega Eli Backes (SURMIS), junto com o bailarino Valdir Soares. Na manhã de domingo, houve uma apresentação do convidado Adalcir Rodrigues da Silva, chefe da US de Torres, sobre o trabalho ali desenvolvido, que conta com 27 colegas. Na seqüência, a Secretária de Relações e Gênero em sua fala de encerramento destacou a importância do engajamento na luta através da PEC e agradeceu a participação de todas, após foi realizada uma Caminhada Ecológica das participantes pelas belezas naturais do Parque da Guarita, com seus rochedos à beira mar. Um momento de confraternização das participantes junto à natureza, reforçando ainda mais a necessidade de luta pela preservação do ambiente natural, que assim como a água, não pode ter dono. |
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